Queria escrever um texto bonito.
-queria? Ela, ele, eu, quem queria?
Essa é a beleza da história: queria. Mas não foi possível, obviamente, porque ao propor escrever um belo texto nada mais saiu da cabeça, impossibilitando qualquer ação, até mesmo pegar na caneta. (ou abrir o Word).
Mas a beleza ainda era uma cisma, e queria falar do amor, da compaixão, da solidariedade, e nehuma idéia surgiu.
-Ah, é porque mineiro só é solidário no câncer.
Quem falou em Minas? Enfim, continuando a história da tentativa de escrever um texto bonito, várias noites foram passadas em claro. Delas, só foi alcançada essa conclusão:
- Escrevo porque tenho medo do solilóquio.
E pensava que deveria correr urgentemente para o texto, mesmo que ele nem saísse tão bonito assim.
E andava pela casa, no meio da madrugada, tentando colocar os pensamentos em ordem para que formassem um texto, para que deixassem de ser um monólogo. Pensava já em voz alta. Escrevia para não falar solitariamente, e já estava a falar em voz alta, ainda que baixa, como quem reza. Enquanto parecesse que orava estava tudo bem, ao menos disfarçava um pouco.
O texto que queria escrever começaria com a história da personagem que tinha a propriedade de mimese, como um camaleão. Porém não sabia como acabar com a história, nem se havia uma moral naquilo. Só achava bonita a imagem, de numa tarde de sol, sua personagem virando muro, virando grade, virando poste, virando carro, virando outdoor...
Porém as palavras se calaram, numa profunda e triste mudez de pensamentos. Oh, dizei só uma palavra e serei salvo! Aquilo sempre impressionara na infância. Só uma palavra. Contra a mudez total do pensamento de quando as palavras todas fogem.
(Normalmente quando as palavras fugiam e se tornavam em silêncio embaraçoso, era diante de alguém. Sentir esse embaraço diante do próprio pensamento era algo inédito na madrugada em que tentava escrever um texto bonito.)
O dia amanheceu, a vida continuou.
Fim
-e o texto bonito?
Não sendo cristão ou dramaturgo, não haveria salvação nem escreveria monólogos que dialogassem.
-queria? Ela, ele, eu, quem queria?
Essa é a beleza da história: queria. Mas não foi possível, obviamente, porque ao propor escrever um belo texto nada mais saiu da cabeça, impossibilitando qualquer ação, até mesmo pegar na caneta. (ou abrir o Word).
Mas a beleza ainda era uma cisma, e queria falar do amor, da compaixão, da solidariedade, e nehuma idéia surgiu.
-Ah, é porque mineiro só é solidário no câncer.
Quem falou em Minas? Enfim, continuando a história da tentativa de escrever um texto bonito, várias noites foram passadas em claro. Delas, só foi alcançada essa conclusão:
- Escrevo porque tenho medo do solilóquio.
E pensava que deveria correr urgentemente para o texto, mesmo que ele nem saísse tão bonito assim.
E andava pela casa, no meio da madrugada, tentando colocar os pensamentos em ordem para que formassem um texto, para que deixassem de ser um monólogo. Pensava já em voz alta. Escrevia para não falar solitariamente, e já estava a falar em voz alta, ainda que baixa, como quem reza. Enquanto parecesse que orava estava tudo bem, ao menos disfarçava um pouco.
O texto que queria escrever começaria com a história da personagem que tinha a propriedade de mimese, como um camaleão. Porém não sabia como acabar com a história, nem se havia uma moral naquilo. Só achava bonita a imagem, de numa tarde de sol, sua personagem virando muro, virando grade, virando poste, virando carro, virando outdoor...
Porém as palavras se calaram, numa profunda e triste mudez de pensamentos. Oh, dizei só uma palavra e serei salvo! Aquilo sempre impressionara na infância. Só uma palavra. Contra a mudez total do pensamento de quando as palavras todas fogem.
(Normalmente quando as palavras fugiam e se tornavam em silêncio embaraçoso, era diante de alguém. Sentir esse embaraço diante do próprio pensamento era algo inédito na madrugada em que tentava escrever um texto bonito.)
O dia amanheceu, a vida continuou.
Fim
-e o texto bonito?
Não sendo cristão ou dramaturgo, não haveria salvação nem escreveria monólogos que dialogassem.