domingo, junho 27, 2004

sono

Sigo insone ultimamente, o que todos sabem não é nada saudável. Guardo a noite, e reluto em abandoná-la pois adio, assim, a manhã. Manhã que é só puramente a vida.
Não reclamo mais a falta de sono, me resigno, e escuto, na madrugada, toda a ausência de que me componho. Todas as cartas as serem escritas, todas as frases a serem ditas, todos os livros que esqueci na estante. Sem dormir sigo por seguir, e palavras não precisam existir mais.

...

Alguém me disse que a angústia é a sensação oposta ao gozo. Sigo pela noite a fora na luta em que ao atingir o cansaço extremo, ou a completa alienação entre minha cabeça e meu corpo expurguem a angústia também.
Mudança de endereço e agradecimentos. Muito gentil, obrigada.

domingo, junho 20, 2004

the end

Liguei a t.v. e assim que a imagem se focou, eu li Fim, iniciou-se uma música, e vieram os créditos do filme.
Liguei a t.v. logo quando você disse que não me ligaria mais.
Desliguei o telefone sem foco de nada ao meu redor, e autômato, liguei a t.v, como se fosse o normal.
Fim. Fazia muito frio.
Era o fim da seção coruja, já ia tarde. Já fazia tempo, já era quase dia. Não era dia, e no frio que só os que passam a noite em claro conhecem, era o fim do filme. Não haveria mais nada, a televisão só exibia as barras coloridas. Ouço ônibus, não havia mais nem o silêncio.



sábado, junho 19, 2004

de hora em hora me ocorre: oh, Zeus


Eu não sei nada. Eu não sei nada. Eu não sei nada.

Se eu fosse o Drumond eu diria: isso não é poesia, é só uma constatação.

Quando eu era pequena achava que um dia, não chegaria nunca.
Porque quando eu era criança eu era só criança.

Talvez nunca chegue. Ser adulto é coisa de gente grande.

terça-feira, junho 08, 2004

pela direita

Hoje, muito cedo, muito mais do que eu poderia confiar em mim, ou em qualquer conexão sináptica da minha mísera massa cinzenta, eu decidi ir embora. Ressurgir como nova cidade em outra civilização, habitando em mim uma nova cultura a explodir demograficamente em mim, lutar grandes guerras em mim, obter a glória e a decadência e por fim, sucumbir nesse desterro em mim.
Recriar os muros e portões que me conterão no outro espaço , derrubar os muros, invadir o império, derrubar o império, recriar a fé, redesenhar o planeta sob outro céu que não o dessa manhã que se repete, nesse tempo que não há mais aqui.
Fazia sol, fazia frio. Era cedo o suficiente para fazer um dia.

Ao procurar um saída de emergência, havia uma placa de proibido fumar. Era necessária a saída de emergência, pois o desejo de acender um cigarro se fazia como único objetivo agora, enquanto o edifício desaparecia entre as chamas.