domingo, dezembro 05, 2004

Não poderei alimentar esse tamagoshi por algum tempo, espero que não morra, coitado. Já é meio anoréxico o pobre. Desculpem-me os comentários não respondidos, espero que ao voltar eu possa colocar os assuntos em dia.

abraços

sábado, novembro 20, 2004

Estava apoiada no parapeito da varanda, com olhar sem foco. Ele a avistou, e com um sorriso: linda vista, não? Nessa altura se vê até muito longe. –Sim, mas não se vê além do chão. –Claro, não se poderia ver além do chão, ele emenda um tanto curioso com o porquê da frase –Eu digo que não se vê nada além do chão, quanto mais longe dele se está, não? De perto das árvores sou capaz de amar a floresta, de dentro do mar amo a água, porém os sobrevoando só consigo imaginar as diferentes quedas. Não lhe ocorre os mesmo? Ele deu um passo a trás um tanto desconfiado das intenções da moça, ok, ela é bonita mas nem tanto para arriscar uma queda do 18º andar. Ela viu seu movimento, porém continuou calma e completou: –Descer o elevador será uma vitória, não? Uma vitória contra o desejo de se atirar. Cada vez que desço pelo elevador é uma vitória da vida. –Porém o instinto básico do homem não é a sobrevivência? Não é o mais primordial de todos? –Pode ser. O desejo de se atirar das alturas talvez ainda seja um mistério, então. Mas olhe bem: então o senhor está aí a um passo de mim, e a um passo da beira da sacada. Se por acaso o senhor me desejar, e desejar, portanto se deitar comigo, e assim sendo desejar inconscientemente fazer um filho em mim e continuar perpetuando seus genes, mas ao mesmo tempo um desejo de se atirar tomar todo seu corpo de assalto, tão forte quanto seu desejo por mim...não seria misterioso? Nunca vi nenhum artigo antropológico a respeito. Todos proclamam o desejo de vida. Talvez o desejo de morte também seja uma força poderosa, talvez ele também nos mova em igual intensidade. Ele se afastou um pouco mais ainda, confuso com seus argumentos. Não via sentido neles, mas não podia negar que eles eram irresistivelmente atraentes...como olhar um acid...Ele riu para si mesmo. É, ha coisas que não conseguimos evitar, mesmo sabendo do desastre iminente.

Assim ele se aproximou novamente, e ao apoiar seu corpo no parapeito para ficar mais perto dela, alguns parafusos se soltaram e os dois caíram, imediatamente, de 18 andares.
Não falarei mais com você até que esse maldito silêncio acabe.
A anticriação

Estou parada em sua frente, há horas, posando para que você me escreva. Dancei para que você me compusesse, e desapareci para que me fotografasse.

No princípio era o silêncio, e no sétimo dia você me acordou.Voltei para sua costela.

quinta-feira, novembro 18, 2004

A concepção estrutural

A tomada de rédeas do tempo de sua vida havia se iniciado com a idéia de que era possível a reconstrução de sua essência a partir da reconstituição de sua forma mais original (o que ele via com sua essência inicial), a qual havia sido morta pelo conhecimento (e não pela efetivação) da necessidade de amadurecimento. (Ele a quisera matar, porém percebeu mais tarde que eles sempre o acompanharam, os gostos, as idéias, os medos, ligeiramente mais polidos ou discretamente guardados).

O processo de se tornar se iniciara na afirmação dessa existência anterior ao que ele julgava sua forma visível no mundo, acompanhado de forte negação da sua forma atual (que ele percebia violentamente moldada por vontades externas a ele ou que corrompiam a essência anterior, como se a forma concreta representasse a morte da idéia pura original), o passo seguinte da compreensão de si era a percepção da necessidade de retomar justamente essa forma madura, e descobrir nela as fissuras causadas pelos esforços do peso da matéria que ali habitava anteriormente. A síntese do que se é, lhe era claro agora, seria somente a perfeita junção dos desejos primordiais ao molde já suficientemente deformado pelas acomodações estruturais decorridas dos esforços sofridos no tempo.

As deformações sofridas nas estruturas arquitetônicas são previstas nos cálculos e fazem parte inconteste da obra. A verdade estrutural só ocorre, portanto, no próprio tempo. A nova etapa de sua formação era aceitar que as modificações ocorridas entre a concepção e a execução, com as violações e as intempéries são a própria revelação da idéia. Não há separação entre a concepção inicial do arquiteto que só existe em seu desejo e a forma final desgastada e corroída pelo pela gravidade, pelo relento, pelo uso que transita entre outros milhões de possibilidades que não a original: a obra será sempre uma unidade.

sexta-feira, novembro 05, 2004

Havia escutado, em outra época, algo que sempre o impressionara: ao se levar um tiro, durante um tempo, não se sente nada. Um baleado, foi como ficara sabendo disso, era capaz de correr uma distância razoável sem perceber o tiro que o atingira.

Há épocas em que o que se sente é tão forte que se pode jurar não estar sentindo nada. Eu digo, repito, saio berrando: não estou sentindo nada. É o tiro.

Há épocas em que a anestesia é tão forte que pode se jurar que a morfina do mundo acabou (a neosaldina e o tylenol também). Salve-se quem puder, saraivada de balas na casa ao lado.

segunda-feira, novembro 01, 2004

dias de cidade vazia

Tinha o corpo estirado após o livro lido, posto ao lado, enquanto sentia sobre si o cinza do céu daquela tarde. O cinza e o vento úmido sobre seu corpo a fizeram ter certeza: aquela tarde não pertencia ao calendário da cozinha, aquela tarde era velha e pertencia aos tempos paralelos da memória que guarda cada cheiro combinado a uma tonalidade de céu e a refere a tempos radiais. Sim, não circulares, não lineares, mas radiais: de sua memória o epicentro e dali em direção à eternidade os vários tempos formados de um sentimento único: tempo de começo, tempo de fins, tempo das mudanças, tempo da proteção, tempos de abandono. Algumas vezes tomava um atalho e se via numa das retas que não mais eram das tardes que se mediam pelos dias que se seguiam uns ao outros, mais dessas tardes eternas.

Ao perceber ter tomado novo dia antigo, tentou imaginar o que a havia levado para fora de seu tempo. Olhou mais uma vez o cinza: do ponto onde se encontrava deitada só podia ver o céu pela janela, mas sabia que esse era um dia de cidade vazia.

Dias de cidades vazias e cinzas são dias em que as crianças não podem brincar e são abandonadas ao próprio tédio por todos. As crianças abandonadas nos quintais em dias de cidades vazias sabem que não há bola, televisão nem nada que lhes afague a cabeça: dias cinzas não são dias em que as crianças podem existir, elas são somente as figurantezinhas inocentes que um mundo muito maior que elas, inalcançável por elas. Na cidade vazia tudo é inalcançável porque suas ruas se transformam no cenário do que há de mais desolador e temerário, que é o mundo que não pode ser vivido. Esse era o tempo de se perceber a real dimensão do mundo, para além do que é familiar.

Cidades vazias com casas cheias são especialmente insuportáveis. Ao contrário das cidades, as casas devem ter a paz que só o silêncio das paredes e dos tetos podem conter. Sabia que só podia se entregar a seu desejo, reconstituir suas lembranças, abraçar seus pensamentos, entregar-se a seu amor ou desespero nas ruas cheias e na casa silenciosa.

Quando acreditava em Deus só encontrava Deus na Igreja vazia. A igreja cheia se reduzia a simples funcionalidade da missa burocrática e tediosa, das obrigações seculares que não transcendiam nada. Porém a igreja vazia não mais continha função alguma além da morada Dele, e seus ecos e suas figuras de Santos tornavam a presença Dele tão material quanto o edifício. E nesse momento não precisava falar com Deus, pois Ele era justamente o meio pelo qual seus pensamentos propagavam. Seu Deus só existia em seu silêncio e nunca quando em companhia de outros.

Depois não houve mais Deus algum. Mas aquela tarde era uma tarde dos tempos em que havia missas e em que havia alguém observando todos os seus atos: como resolver a questão de não haver mais lugar para Ele na reta principal do tempo linear de sua vida, quando subitamente poderia voltar assim à tardes cinzas de cidades vazias na qual havia Deus, e a casa cheia da família indo e vindo, insuportavelmente ruidosa, enchendo todos os cômodos e sufocando qualquer tentativa de coerência (mesmo que morando sozinha em seu apartamento decorado a seu próprio gosto)? Resolveu-a abandonando completamente seu corpo sob aquele vento antigo e a garoa que naquele tempo não parou nunca de chover. Começou a sonhar, e em seu sonho estava abrigada por um sobretudo daquela chuva incessante, acordou novamente com sua imagem de sobretudo e pensou que nunca havia tido ou necessitado de um casaco desses. Havia um lago e ela mergulhava no lago vestindo sobretudo e cachecol.

Eis que já escurecia, a chuva a obrigara a fechar a janela, e o vento cessara: o tempo ficou suspenso longamente até conseguir se mover da cama e perceber a casa em que se encontrava, a fome que sentia a lembrando de seu corpo adulto e que ela mesma deveria preparar algo para comer.
Esses dias passam também. Todos os dias passam.

quinta-feira, outubro 28, 2004

Sísifo

Sorriu enquanto descia a rua estreita e pouco iluminada. Sorriu por saber que era aquela rua pequena, e não qualquer outra, que foi tomada há muito tempo. Olhou as árvores que mal podadas cobriam os poucos postes que restavam acesos. Graças a Deus essas árvores se encontram mal podadas. Graças a Deus não há a luz amarela indecente da avenida. A luz pornográfica.

Lembrou-se de um jantar no pequeno e discreto restaurante. Lembrou-se dela, tão confortável em saltos tão altos. Lembrou-se de como pouco confortáveis lhe eram a gravata e o paletó, naquele dia quente. Não, mentira, não lembrava mais como era desconfortável, somente se recordava de no dia haver pensado nisso, ao vestir o paletó, e ela em seu vestido decotado, porém a idéia de que ela era mais feliz desvaneceu levemente com a visão de seus saltos. Só num instante, já que a imagem dos saltos não permitia grandes considerações a respeito de seu conforto, aos diabos com seu conforto, ela estava belíssima. Mas não importava agora, porque não havia mais o restaurante pequeno e discreto.

Andou mais alguns passos e viu novamente a padaria/armazém/Deus sabe onde se guardam seus ratos.

Lembrou-se de várias paisagens, lembrou do desejo de ver outras paisagens e de todos os projetos de fuga. De todas as tentativas de fuga.

Foi naquela tarde. Foi quando próximo da avenida não quis a avenida. Num movimento brusco, virou o carro. Em algum ponto, saiu do carro. Foi quando pela primeira vez pegou a rua estreita. Demorou a compreender a rua estreita, e suas árvores como velhos barbudos. E sua escuridão cega e velha.

E foi quando não haveria mais o carro, o restaurante, ou ela. E o tempo se extinguiria e seria para sempre o caminhar pela rua estreita e pouco iluminada. E só as fases da lua mudariam, iluminando mais ou menos por entre as folhas nas copas das árvores mal podadas.

Após caminhar durante algumas horas pela rua, começou a perceber os primeiros sinais: primeiro viu o mesmo velho sentado em uma varanda que já havia visto anteriormente. Não, deve ser só outro velho. Velhos às vezes são similares demais para que alguém que caminha tão entretido com seus próprios pensamentos perceba a diferença. Porém mais a frentes passou pelo mesmo jogo de amarelinha das meninas. Gritou as meninas. Elas não olharam. Foi a quando cogitou pela primeira vez a possibilidade da rua ser circular. Decidiu que prestaria atenção nas fachadas. Passou a percebê-las. As tonalidades entre azul, rosa, amarelo e verde, com uma camada de tempo que as tornavam a quem passa despercebido a mesma cor, agora já eram completamente distintas. Todos os traços das fachadas se tornaram singulares: as heras na varanda de uma, o nicho com um santo no frontão da seguinte, um sofá de balanço no jardim de outra.

Imaginou como poderia se dar a circularidade da rua, que era uma reta constante: a compreendeu, portanto circular como a própria terra, com seu horizonte finito. Tendo confirmado assim a possibilidade verdadeira daquela rua se constituir num pequeno mundo imutável, no qual estava condenado a permanecer, continuou. Olhou o meio fio, olhou o céu. Era noite de lua cheia, então podia perceber os musgos nos paralelepípedos, os insetos, as gotas d´água.
Continuou na eternidade da memória do que poderia ter sido.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Agridoce e os dias passam e parece que o destino de tudo é o tédio, o fim último de toda sensação. Porém me deparo falando sozinha porque sei exatamente para quem se destinam meus diálogos sempre cuidadosamente construídos. Então se vão embora as frases todas e eu só escuto atentamente. Docemente.

Pega na minha mão e confia.

Felicidade são os pequenos momentos em que parece que tudo está no caminho certo: ainda não deu, mas com certeza vai dar tudo certo alguma hora. Encontro a felicidade na possibilidade de ser feliz.

Levanto da cama.

Naquele segundo tudo parece ter se encaixado: todas as palavras e as coisas quem gravitam livres demais foram adestradas e tomaram seus devidos postos. Finalmente foi encontrado o santo gral da razão pela qual se vaga por essa terrinha mais ou menos. Por um segundo. A alegria de viver é enorme nesse segundo. O amor é mais profundo e as palmeiras gorjeiam por todo o lugar.

Nunca mais perderei o caminho de casa.

Estou no ônibus e o ônibus pára, vejo um drive-in com uma placa: temos boxe especial para pedestre. Depois se preocupam em salvar o português das influências externas. Como se em português do Brasil tudo não adquirisse seu próprio significado sempre a beira do absurdo como quase todo lugar por onde ando.

Em algum dia um casal desceu de mãos dadas naquela parada de ônibus.

Eu segui meu caminho, aquele não era meu ponto. Há ainda uma longa distância até meu destino.
Há um enorme medo diante de qualquer possibilidade, mesmo diante da possibilidade de que tudo pode melhorar, porque há um grande medo diante da possibilidade perigosíssima que é a de continuar.

Keep walking. Whisky é muito melhor que champanhe.

Em um posto de gasolina desativado existe um anúncio da venda de um avestruz. Alguém me propõe comprar um avestruz em um posto de gasolina que não vende mais combustível, nas manhãs sonolentas e invariavelmente cinzas, porque insuportavelmente distantes do meu edredom. Desconfio que esse anúncio só exista nas manhãs.

Agradecimentos para Gisele e Noronha, obrigada pela lembrança.

quinta-feira, outubro 21, 2004

Quando você sabe que está ficando velho: você um casal de seus quatorze ou quinze anos a se beijar e você se sente levemente desconcertada, incomodada: eles são novinhos demais pra isso, olha que carinhas de neném. E você se lembra de sua adolescência e finalmente compreende seus pais.

Quando você percebe que vai demais ao mesmo lugar: Ao entrar no táxi, na porta do bar, você começa a dar indicações: moço, pega a avenida...Hei, podexar que eu já sei onde você mora. E você segue em silêncio até sua casa.

Quando você sente a delicadeza da caridade (e imagina que sua pobreza está ficando aparente): Você correu até o ponto de ônibus, entrou esbaforida e ao abrir a bolsa descobre que esqueceu a carteira. Você faz aquela cara de sem graça e pede ao motorista que abra a porta, ao que o cobrador retruca: esse ônibus sai agorinha... Fazer o que, moço. Você vai passar o dia fora? Não, só vou à faculdade assistir uma aula e volto. Então toma aqui: E volta com dois vales-transporte na mão: preocupa não, depois você me devolve.

E finalmente, um dia você descobre que mesmo no anonimato da cidade, sentada aos prantos em um banco numa região de comércio movimentada, ainda existe humanidade por entre o trânsito todo, e alguém põe a mão no seu ombro de fala: preocupa não, minha filha, não há nada que não tenha jeito nessa vida. E te estende um copo d´água com açúcar, bebe minha filha, bebe que melhora.

sexta-feira, outubro 08, 2004

Cada época com suas manias

-Então eu lia muito, e meu pai começou a falar para eu parar senão eu ia ficar louco.
-Louco?
-É, naquela época era assim, a moda era falar que quem lesse muito ia ficar louco.
-Era comum?
-Sim, era a moda naqueles tempos. Igual hoje em dia a moda é dizer que a pessoa vai ficar flácida e sedentária e enfartada.
-A repressão nunca termina.

quinta-feira, outubro 07, 2004

De como um dueto virou um duelo e outros trocadilhos inomináveis
Mas eu ainda preferia um tango

Todas as mensagens que deixei em horas indevidas com mensagens indevidas se deveram ao uso abusivo do álcool.
Perfume leva álcool. O Merthiolate que ardia levava álcool. Pode ser mentira. As mensagens que deixei em horas indevidas não se deveram. Não devo, não nego.

Branco sobre branco. Acordei me sentindo a tela de Malevich. Uma sugestão de que se é. A insinuação de desordem. O branco sobre branco não é a pureza, é o que não se via revelado sub-repticiamente.

22 novas mensagens, depois 17, mais 35, mais 9 e não há mais viagra natural o suficiente no mundo.
Atualizo a página, nenhum e-mail novo. Atualizo a página, atualizo, atualizo. Nenhuma mensagem nova. Porque precisar tanto de uma palavra que seja dirigida só a mim nessa noite? Preciso que alguma voz ecoe espontaneamente, de um pensamento que não cruzou com meus olhos, só cruzou com minha imagem de pensamento nessa noite em que na me encontro. Eu existo, que seja um toque, material como eu que teclo, atualiza, atualiza, nenhuma mensagem nova.

Se fosse derramada uma mancha vermelha, seria um atentado. A mancha vermelha na tela branca é como a mancha vermelha no lençol branco da moça de outro tempo, mas aquela que não havia. A mancha vermelha não é a desordem sutil, ela existiria tão intensamente que não seria mais possível perceber o branco sobre branco, só o vermelho no fundo neutro. Deve-se esconder a mancha vermelha.
Mas o que na vida, que não na arte, se pode amar mais: a mancha vermelha que revela o erro, ou o branco sobre branco que só o insinua?


Não atualizarei mais nenhuma vez, não escreverei em vão, não serei eu agora. E pronto: sou eu novamente, pois nesse silêncio ouvi minha respiração, percebi minha presença. Já não posso mais me ignorar.

sábado, outubro 02, 2004

Amanhã é dia de eleição,
Ou de porque eu choro vendo o horário político eleitoral

Dói muito para mim perceber a esperança nos outros. Machuca. Cada vez que alguém fala algo como: temos que tentar mudar! não podemos esquecer nosso poder de decisão! somos cidadãos!, eu morro um pouco. Tenho uma vontade de pegar o tal cidadão no colo, como uma criança, e lhe explicar: não, queridinho, você não vê? Nada vai mudar...nada...agora, tome esse pirulito e vá brincar com seus amiguinhos, ok? Apague essa esperança de seus olhinhos, tome aqui um lencinho.

E como sou uma alma sensível, entrarei na seção eleitoral de olhos fechados.

segunda-feira, setembro 27, 2004

aujourd´hui

ou do dia em que amanheci no Rio de Janeiro e depois fui à aula de francês na Savassi

eu fiquei com vontade de guardar como um segredinho, só pra mim, e não compartilhar com ninguém.

ou porque faz sol e calor aqui, acolá, e por mais que eu não demonstre muito, eu fiquei feliz demais. Quando eu contei disse que havia ganhado um presente. Sim, foi um presente que você me deu.

Mas estava um dia bonito demais para essa mesquinharias.

Alma de flor
Antonio Caetano

"Minha alma faz fotossíntese", me diz a Juliana, feliz com Belo Horizonte ensolarada. Juju estava meio triste, nem sabia bem porquê, os olhos perdidos longe, mas num longe que só os mineiros alcançam, mesmo os mineiros por adoção, como é o caso da Ju, que nasceu no Paraná, mas quando se deu conta, já era mineira de perder os olhos em lonjuras que outros sequer vislumbram. Pois é preciso ter longe os olhos pra se olhar lá no fundo de si e perceber que se tem alma de flor.

Uma alma que se alimenta do sol, do céu azul, do sussurro da brisa e que assim aconchegada no mundo, que é só um dia, este dia, agora, pode fazer pouco das palavras, da falsa eternidade delas, sempre tão ambíguas e tão metidas a donas da verdade...
Mas o que têm as palavras a dizer de um dia como este, que alimenta a alma e a põe à flor da pele, todo corpo silenciosamente, deslizando pelas ladeiras de Belo Horizonte, em comunhão com o universo inteiro?

Tamanha inteireza não está ao alcance das palavras, escravas da sucessão, das histórias mal contadas em começo, meio e fim - como se isso houvesse, como se não fosse tudo simultâneo a tudo, num enorme turbilhão.

Mas a gente só sente isto quando a alma se faz corpo e assim cumpre seu destino de criar (e conservar) a sensual eternidade do agora - que é só o que há, sempre.

* * *
Pois é, Ju, somos isso que chamam de almas gêmeas. Porque eu (ou minha alma, tanto faz...) também me alimento do mesmo sol que aqui parece vir do mar bem cedinho, em espantosas explosões de cor que um dia já me valeram um poemeto:

Eu vi o violento vermelho
Virar-se do violeta ao azul:
Era o dia!
Novo sob o véu do orvalho,
Vivo,
De novo vindo do divino ventre da Natureza.

Pois eu também andava meio triste, me sentindo morto por dentro, esquecido do sol. Acontece, às vezes, da gente olhar a própria vida com olhos de não que apagam qualquer sol que possa ver para instaurar uma escuridão de abismo. Pra quê? Um tênis novo pode mais às vezes do que o melhor psicanalista: a vida não se resolve com palavras. A vida se resolve em esquecimento, o genuíno esquecimento de estar aqui, agora sob o sol que alimenta nossa alma de flor.

quarta-feira, setembro 22, 2004

Já que nunca tatuei minha pele, não garantindo como renda post- mortem a sabe-se lá qual parente sua venda para japoneses com idéias estranhas de decoração, decidi vender algo cuja renda pudesse aproveitar em vida. Antes que alguém tire conclusões precipitadas, o que vendi foi minha alma para a ciência. Porque, como morro um pouco a cada dia, por diversos motivos, conhecidos ou não pela medicina, asseguro parte do insumo para o melhor aproveitamento desse tempo que passo vivendo, hum, em frente ao computador.

Até agora os cientistas chegaram a algumas conclusões em seu estudo, das quais eu pedi autorização para publicação nesse blog e ela me foi concedida, pois, como foi assegurado pela Drug and Food Administration, ele não causava males auditivos aos que não enxergam.

- Minha alma faz fotossíntese: conclusão que aparentemente não tem relação com o fato de eu ser vegetariana, porém é muito clara, tendo em vista que em dias escuros minha alma não consome praticamente nenhum gás carbônico. E, é óbvio, em falta de luz continuada, ela murcha.

- Minha alma também precisa ser regada. Sempre. Mas minha alma não é uma flor. Pelo menos não que se cheire.

- Sua entropia cresce no sentido do passar do dia. Ela produz seu próprio caos, com pouquíssimos elementos.

- Minha alma dá longas voltas sem me consultar, e, como um marido canalha, as vezes some sem deixar nem sequer um recado. Mas isso não precisava de um cientista me contar, ora. Mas eles descobriam o que ela faz quando some: ela lê romances Sabrina, a desgraçada, depois volta com idéias açucaradas sem que eu soubesse de onde. Ela também assiste novelas mexicanas, me revelando dramas nunca dantes concebidos em meu cotidiano, e lê revistas femininas, e depois insiste para que eu compre bateladas de roupas, sapatos e cosméticos que eu nem sabia que precisava.

Ainda não concluíram quando ela nasceu. Ainda não concluíram se ela tem prazo de validade. Outras conclusões serão publicadas em breve na Nature. Mas lá eles não a chamarão de minha alma, mas sim de pobre-alma-objeto-de-estudo.

segunda-feira, setembro 13, 2004

Como sempre, abro o Word porque tenho que escrever nesse momento. E como tem acontecido sempre, não tenho nada o que dizer. Mas tenho que escrever, então liguei o computador, dei duas voltas pelas casa, tomei água, passei a mão no cabelo, já está oleoso, a franja nem é mais franja, está um topete engraçado meio pra cima meio caído para o lado onde deveria estar. Tamborilo as mãos na mesa do computador.Penso, tamborilo de novo. Essa sensação tem sido pior que a insônia. Durante a insônia milhões de pensamentos vão ocorrendo: lembranças, o esmiuçar de fatos minúsculos, agigantamento de coisinhas de nada. E no meio algo que eu mesma me pego surpreendida a me interessar. Se sobra alguma idéia para após o sono, ela deve valer. Mas agora não há nada. Tamborilo os dedos, mas não toco mais piano há eras.
Há dias não tenho insônias. Faz bem, a pele agradece, os horários marcados também. Porque só espero, não tenho sentido que há mais nada a fazer. Espero porque aceitei o que tenho a fazer com minhas horas acordada. Ligo o computador. Não sinto angústia. Só sobrou aquela, a velha de sempre, que de repente se tornou parte de mim, como um órgão qualquer. Que sou só eu dentro de mim, e o nada a fazer de tudo que me tornei, o que transformar do nada que ainda construí, o tempo todo a continuar pesando sobre o que já perdi. Talvez eu tenha medo de perdê-la tanto como da amputação. Só há ela a fazer uma sombra sobre meus olhos que creio dão alguma distinção. Para que eu possa ser levada a sério, porque as pessoas delicadas, que falam baixo e pouco, e às vezes alto e muito, que andam vestidas de saias rodadas, que tem medo de envelhecer, que pensam para falar, que falam sem pensar e se arrependem para sempre, muito, essas, na minha época, não eram levadas a sério. Durante muito tempo eu fingi que era dura, mas não era, e toda a dureza me doía e pesava. Aprendi que não gosto de palavras duras nem gestos rigorosos, e me livrei das palavras duras e dos gestos duros. Porém nunca me livrei do desejo de corresponder as expectativas, e por isso paulatinamente pus por terra tudo que se esperavam de mim, para me ver tão completamente só na falta de espelho das esperanças alheias, que posso ser uma pessoa inteiramente nova. E sê-la é simplesmente voltar a ser quem eu era com quatro anos, quando pela primeira vez senti medo, amor, e medo por sentir amor, e gritei alto para que percebessem que meu irmão havia se soltado e engatinhava para a escada rolante, a tempo das mulheres largarem seu pacotes e correrem para o menino.Voltar a gritar de medo de perder e de gritar em público por que se ama. Desci o morro de grama rolando. Trepei na árvore. Vesti meu vestido de flores rodado, abrir os braços contra o vento e rezei para que ele me levasse.

Volto a ser eu mesma com quatro anos, fecho os olhos e peço.

sábado, setembro 11, 2004

Assim alguém me contou mas não me lembro quem e muito menos onde:

O problema do álcool é que eu sempre me acho uma pessoa melhor quando bêbada, porém quando acordo, descubro que sou melhor é calada.

Notas de um dia em que a vida não engorda nem dá rugas:

Aos que não me viram aos berros, agradeço assim, fingindo que sou uma moça comedida:
Ao Renato César, que foi para a Inglaterra e mata a nossa saudade com um ótimo diário de viagem, sempre com aquele humor que não deixa pedra sobre pedra, ao Manuel, do H Gasolim Ultramarino, um lindo blog com delicioso sotaque da terrinha, que eu descobri completamente por acaso e, qual não foi minha surpresa? Havia linkado o mas, como assim quietinho, lá do Além Tejo. E finalmente à Júlia, que não só mandou um link daqui, como recomendou e mostrou um post meu no lindíssimo nove de copas, me fazendo literalmente chorar aqui em casa.

sábado, setembro 04, 2004

Novas condições psiquiátricas ainda não catalogadas pelos meios competentes

Todos os dias aprendemos o significado de uma nova condição psiquiátrica gerada pelo stress do mundo contemporâneo. Os pobres seres humanos, diante de um mundo cada vez mais competitivo, poluído e barulhento se defendem em suas cabecinhas das maneiras mais improváveis. Estou aqui catalogando mais alguns novos distúrbios que eu ainda não vi discutidos no fantástico, no Jô, no 60 minutes e nem na Caras, mas garanto que deveriam estar lá:

1-Hipoatividade: Os pacientes dessa síndrome são capazes de permanecer horas a fio sem fazer absolutamente nada. Muitos nem ouvem música, ou folheiam uma revista, só ficam parados olhando o horizonte (ou uma parede branca). Diferenciam-se dos autistas porque tem habilidades sociais. Esporadicamente.

2- Distúrbio do Excesso de Atenção: Essa síndrome é observada em pacientes capazes de dedicar horas, dias ou sabe-se lá quanto tempo a remoer, esmiuçar, analisar cada ângulo de uma situação. Similarmente aos hipoativos, também são capazes de passar bastante tempo aparentemente sem exercer nenhuma atividade. Em situações de sociabilização, normalmente percebem cada atitude de seus pares, cada detalhe do ambiente em que se encontram. Falam pouco, evitam brigas e em termos de decoração normalmente preferem o minimalismo. Não suportam barulho.

3- Síndrome da Falta de Pânico: Não confundir com intrepidez. Portadores dessa síndrome não raramente são acrofóbicos, por exemplo. Porém os portadores desse distúrbio apresentam comportamento bastante anômalo para os padrões de vida em metrópole: andam sozinhos de madrugada, esquecem a chave de casa do lado de fora, andam de carro com a janela aberta. Freqüentemente conversam com estranhos e comem em lugares pouco recomendados no baixo centro. Muitos deles também fumam, ingerem alimentos ricos em gordura e são sedentários.

quinta-feira, setembro 02, 2004

-Eu estou indo, você está me deixando ir?

Só ouviu o silêncio e o espaço entre seus corpos aumentar.

Percebeu sua imagem se dissolver, e acabarem palavras, cores e cheiros. Parou numa sala branca, de fundo infinito em todas as dimensões. Isolada de qualquer som, logo pode ouvir o sangue correr nas suas veias. E percebeu que a gravidade lentamente aumentava, jogando seu corpo para baixo. Deitou-se de bruços sentindo o peso de cada célula sua enquanto se enterrava no chão. Era bom sentir o peso de cada célula do seu corpo, naquele lugar onde não havia mais nada. Continuou nessa posição, esperando ser sufocada pela sua própria traquéia, devorada por suas tripas, e esmagada pelos seus membros, enfim. Depois de algum tempo, viu um buraco no chão. Arrastou-se lentamente até que pode colocar a cara nele, e sentir o vento: olhou para o buraco, um espaço, e nada. Tudo branco como na sala, nem perspectiva que criasse vertigem. Então nesse momento não sentiu vertigem, mas logo percebeu a infinitude e seu desejo de se atirar e recuou um pouco, tonta e enjoada. Aproveitou o buraco para fumar um cigarro e soltar o fumaça para o infinito. Engraçado sentir escrúpulos de fumar em lugares fechados numa hora dessas.

Passada a tontura, começou a imaginar o pulo como algo mais concreto, considerando então racionalmente os prós e os contras. A favor do pulo o óbvio: a gravidade da sala poderia continuar aumentando indefinidamente, devido a falta de som já podia ouvir seus pelos crescerem, e todo aquele fundo infinito o deixava constantemente sem direção. Mas e contra, então? Contra havia a ausência de si mesmo boiando para sempre, ou se perder, ou pior: chegar a outro lugar onde houvesse som, cheiros e cores. Mediu a largura de seus ombros, viu que passaria no buraco. Só precisava dar o impulso e deslizar de cabeça.

Deslizou. Sentiu-se então liberta da gravidade da sala infinita. Rodopiou algumas vezes, e por fim ficou estendida de costas, caindo.

-Estou soltando de sua mão, você está me deixando cair?

E lembrou-se de como se prendia a suas palavras, mas ele as soltava, e quando mais se amarrava a elas, mais ele as deixava ir. Então ela, amarrada as palavras, jogava cordas tentando prender-se ao corpo dele, mas não havia corpo, e as cordas não o amarravam. Ela ficava então se debatendo entre as amarras, presa as palavras que não estavam presas a nada. E ele sabia quando dar as sentenças o peso que queria, a trazendo de volta. Sempre amarrada, mas nunca a ele, sempre com um abismo sob seu corpo, indo e voltando.

- Eu cortei as cordas, você vai me deixar partir?

E seu corpo, de costas, foi caindo lentamente como uma folha, e pousou suavemente no chão de uma cidade. E percebeu que era uma cidade, e que havia ruas e pessoas e árvores que desprendia folhas que caíam como ela sob o chão. Levantou-se e seguiu pela rua, após tanto tempo, andando.

segunda-feira, agosto 16, 2004

A história do coadjuvante

Era uma vez...

Era uma vez pressupõe que será contada a história com final feliz. Adianto que a história do coadjuvante não possui um final feliz.
Porque? Interroga-me com olhos mareados a pobre moça sensível.
Ora, minha querida, a história não tem final nem feliz nem trágico, simplesmente não tem fim. O fim é para as grandes personagens, com sua grande saga, dolorosas perdas e lacerantes amores. O coadjuvante só as presenciou: ele esteve no casamento final, foi testemunha no duelo, aconselhou o amigo apaixonado, bebeu o vinho da festa em que se conheceram. No mais ele viveu uma vida às vezes feliz, outras triste. Amou, foi amado, foi traído, abandonado, amado por outra a quem não quis. Finalmente se casou com A coadjuvante. Teve dois filhos, que tiveram outros filhos. E uma filha, que morreu muito nova, a pobrezinha, não lhe deixando mais netos.

Ora, então houve um final: um dia ele morreu.

Sim, ele morreu. Morreu dormindo, em sua casa, de infarto do coração. (todo infarto não é do coração? Bem, de qualquer forma, infarto do coração é mais bonito dito assim, em toda sua extensão).

Porém isso não é fim de história, que vocês sabem muito bem.

quarta-feira, agosto 04, 2004

Ilustríssimo Doutor

Creio que existam outras, porém agora só me lembro de auspício. Auspício é uma palavra que na minha semântica particular significa exatamente seu oposto: para mim é mau agouro. Cessar será sempre o que é, porém há algo de profundamente cortante no sibilar do que cessa: o tempo suspenso, o universo é imóvel e tudo se congela. Cessar supera seu significado. Arar nunca me lembrará grandes máquinas em campos de soja, é bucólico e se situa no alto de uma colina. Já semeadura não tem nada de pastoril, tem a rigidez de um trator.
O som. E, como soa...

Ao cessar a aragem, sentiu a brisa em seu rosto: eram os auspícios de agosto.

Prevejo uma tempestade. Nuvens negras, raios e trovões. E provavelmente um Heathcliff atormentado surgirá a qualquer minuto no alto de sua montanha.


...

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança é um filme bom. Muito bom. Numa das resenhas que li sobre o filme (todas, felizmente, após tê-lo assistido) o resenhista comentava de como o roteirista, Charlie Kaufman, amadurece em um trabalho que consegue conciliar seu domínio da linguagem e os malabarismos textuais que impressionaram em seus outros filmes com sensibilidade. É o que acredito sobre o amadurecimento: apreciar não só a habilidade, a técnica, mas o que realmente há de beleza. Quando o virtuosismo passa a ser o pano de fundo que possibilita a expressão elaborada do que se pretende dizer. Isso só se dá com o tempo. Adolescentes adoram truques, pois estão começando a descobrir a própria inteligência, e se impressionam com o fato de que pensam por si, e não mais pelos professores ou pelos pais. É um momento magnífico: porém é só o início da compreensão das coisas. O elogio da destreza para mim é muito pouco, dada minha idade avançada. A habilidade deve existir no bom artista como condição primordial.
Sou uma velha sentimental.

sexta-feira, julho 30, 2004

Queria escrever um texto bonito.

-queria? Ela, ele, eu, quem queria?

Essa é a beleza da história: queria. Mas não foi possível, obviamente, porque ao propor escrever um belo texto nada mais saiu da cabeça, impossibilitando qualquer ação, até mesmo pegar na caneta. (ou abrir o Word).

Mas a beleza ainda era uma cisma, e queria falar do amor, da compaixão, da solidariedade, e nehuma idéia surgiu.

-Ah, é porque mineiro só é solidário no câncer.

Quem falou em Minas? Enfim, continuando a história da tentativa de escrever um texto bonito, várias noites foram passadas em claro. Delas, só foi alcançada essa conclusão:

- Escrevo porque tenho medo do solilóquio.

E pensava que deveria correr urgentemente para o texto, mesmo que ele nem saísse tão bonito assim.
E andava pela casa, no meio da madrugada, tentando colocar os pensamentos em ordem para que formassem um texto, para que deixassem de ser um monólogo. Pensava já em voz alta. Escrevia para não falar solitariamente, e já estava a falar em voz alta, ainda que baixa, como quem reza. Enquanto parecesse que orava estava tudo bem, ao menos disfarçava um pouco.

O texto que queria escrever começaria com a história da personagem que tinha a propriedade de mimese, como um camaleão. Porém não sabia como acabar com a história, nem se havia uma moral naquilo. Só achava bonita a imagem, de numa tarde de sol, sua personagem virando muro, virando grade, virando poste, virando carro, virando outdoor...

Porém as palavras se calaram, numa profunda e triste mudez de pensamentos. Oh, dizei só uma palavra e serei salvo! Aquilo sempre impressionara na infância. Só uma palavra. Contra a mudez total do pensamento de quando as palavras todas fogem.
(Normalmente quando as palavras fugiam e se tornavam em silêncio embaraçoso, era diante de alguém. Sentir esse embaraço diante do próprio pensamento era algo inédito na madrugada em que tentava escrever um texto bonito.)

O dia amanheceu, a vida continuou.

Fim

-e o texto bonito?
Não sendo cristão ou dramaturgo, não haveria salvação nem escreveria monólogos que dialogassem.

quarta-feira, julho 21, 2004

mau caminho, bom caminho, coluna do meio

Já dizia meu avô, tem gente que vem ao mundo a passeio.
Isso em oposição, obviamente, a grande maioria que veio a trabalho.
Mas ninguém se lembra daqueles casos, de alguns chegaram aqui porque desatentos, distraídos ou meio lerdinhos mesmo se perderam de seu caminho.
Até agora estou procurando alguma direção.

terça-feira, julho 20, 2004

Sobre a Lua, Cavaleiros e figuras de linguagem
 
No bairro onde moro há uma rua que se chama Lua. Lembrei-me dela ontem, quando descia para o ponto de ônibus, e ouvi alguém pedindo direções. Direções para a Lua, ali, tão perto de mim. E me lembrei que eu, arquiteta, gostaria de morar na Lua, construir minha casa lá. Ela é uma rua sem saída, bem no alto do bairro. Atrás dos terrenos é um grande morro, e em todos se tem uma bela vista definitiva da cidade. E muito mato também. Um lugar lindo. Eu gostaria de morar na Lua, de são Jorge. Aquele, que lutou contra um dragão pela princesa.
 
Eu sou capaz ainda de me espantar com a minha obviedade.
 
São Jorge me lembra Dom Quixote por vários motivos, até pelo dia: dia de são Jorge é o dia de nascimento de Cervantes. Bom, mas a imagem no fim é mais infantil, é a imagem do cavaleiro. Por um momento prefiro dom Quixote, que, no fim tinha vários livros. Gostaria de uma casa cheia de livros.
 
Eu sigo me espantando.
 
Desço Santa Lúcia, São Bento, Santo Antonio. Chego A Savassi. Ainda é uma aliteração, me diria a minha -ou alguma- professorinha: remete ao sonho, ao sono. Prometo que nunca mais usarei a o verbo remeter. Mas chegar na Savassi é chegar ao trabalho, e depois de passarem os Santos só chego a gentes todas e seus problemas (e aos meus problemas com as gentes todas).
 
E lá também encontro meus amigos, e vou a cafés. E compro livros, enquanto não encontro Dom Quixote. (não sou Dulcinéa, mas minha madrinha era. Linda, uma pessoa verdadeiramente boa, será que acredito que ela olha por mim? acredito que ela acredita que sim, em sua toda pureza. Madrinha, mãe em Deus, ando a esperar que alguém possa acreditar em mim, que não acredito em nada)

Por esse caminho de aliterações não chegarei à Lua, não construirei minha casa na Lua, não pretendo continuar aqui. Pretendo sempre ir para Pasárgada, Belo Horizonte está longe de lá. Aqui não há nem sequer um rei. Sempre decidida a partir, com o fervor dos que tem fé, desço Santa Lúcia, São Bento, Santo Antonio, Savassi, aliterariamente, e volto a noite sem o som de veludosas vozes, só do motor do ônibus.

domingo, junho 27, 2004

sono

Sigo insone ultimamente, o que todos sabem não é nada saudável. Guardo a noite, e reluto em abandoná-la pois adio, assim, a manhã. Manhã que é só puramente a vida.
Não reclamo mais a falta de sono, me resigno, e escuto, na madrugada, toda a ausência de que me componho. Todas as cartas as serem escritas, todas as frases a serem ditas, todos os livros que esqueci na estante. Sem dormir sigo por seguir, e palavras não precisam existir mais.

...

Alguém me disse que a angústia é a sensação oposta ao gozo. Sigo pela noite a fora na luta em que ao atingir o cansaço extremo, ou a completa alienação entre minha cabeça e meu corpo expurguem a angústia também.
Mudança de endereço e agradecimentos. Muito gentil, obrigada.

domingo, junho 20, 2004

the end

Liguei a t.v. e assim que a imagem se focou, eu li Fim, iniciou-se uma música, e vieram os créditos do filme.
Liguei a t.v. logo quando você disse que não me ligaria mais.
Desliguei o telefone sem foco de nada ao meu redor, e autômato, liguei a t.v, como se fosse o normal.
Fim. Fazia muito frio.
Era o fim da seção coruja, já ia tarde. Já fazia tempo, já era quase dia. Não era dia, e no frio que só os que passam a noite em claro conhecem, era o fim do filme. Não haveria mais nada, a televisão só exibia as barras coloridas. Ouço ônibus, não havia mais nem o silêncio.



sábado, junho 19, 2004

de hora em hora me ocorre: oh, Zeus


Eu não sei nada. Eu não sei nada. Eu não sei nada.

Se eu fosse o Drumond eu diria: isso não é poesia, é só uma constatação.

Quando eu era pequena achava que um dia, não chegaria nunca.
Porque quando eu era criança eu era só criança.

Talvez nunca chegue. Ser adulto é coisa de gente grande.

terça-feira, junho 08, 2004

pela direita

Hoje, muito cedo, muito mais do que eu poderia confiar em mim, ou em qualquer conexão sináptica da minha mísera massa cinzenta, eu decidi ir embora. Ressurgir como nova cidade em outra civilização, habitando em mim uma nova cultura a explodir demograficamente em mim, lutar grandes guerras em mim, obter a glória e a decadência e por fim, sucumbir nesse desterro em mim.
Recriar os muros e portões que me conterão no outro espaço , derrubar os muros, invadir o império, derrubar o império, recriar a fé, redesenhar o planeta sob outro céu que não o dessa manhã que se repete, nesse tempo que não há mais aqui.
Fazia sol, fazia frio. Era cedo o suficiente para fazer um dia.

Ao procurar um saída de emergência, havia uma placa de proibido fumar. Era necessária a saída de emergência, pois o desejo de acender um cigarro se fazia como único objetivo agora, enquanto o edifício desaparecia entre as chamas.

quinta-feira, maio 27, 2004

Da série
Assim caminha a humanidade

Nossos ancestrais



Desde os primórdios da história seres humanos demonstram seu desejo de comunhão com a natureza e sua infinita capacidade de observação. Foi descoberta recentemente uma antiga tribo que percebeu nas formigas seu perfeito símbolo de ordem e bom trabalho em conjunto. Sendo tais formigas inofensivas, apesar de muito abundantes na região, tal tribo passou a adorará-las como deuses.

Assim sendo, no início da primavera, quando a natureza voltava a vicejar e os bichinhos voltavam ao seu trabalho, se espalhando por toda a região, essa tribo celebrava sua fé. Todos depositavam na porção central da aldeia, dedicada aos cultos, suas oferendas. Essa oferendas se constituíam basicamente de mantimentos, em especial os açucarados. Então oravam e idolatravam seu Deus Formiga, para depois, estando toda a área tomada pelos insetos atraídos pelas pilhas de mantimentos, iniciarem os festejos. Que constituíam em longas danças frenéticas de vários dias, numa coreografia que contemporaneamente pareceria uma série de pulinhos coletivos, alternando as duas pernas e içando os joelhos o mais alto possível. Quanto mais altos os joelhos chegassem, e maior fosse a freqüência dos saltos, maior a fé. Além da dança vários membros da comunidade rolavam pelo chão, em êxtase.

sábado, maio 22, 2004

presença

Eu sinto saudade suas e por um momento eu não tenho corpo, nenhuma presença física. Sou só essa saudade. E então me lembro do corpo e já sou só tudo que me envolve, essa cadeira, esse teclado, e saio pela casa sendo a casa e todos os cheiros e pedaços da casa. Como aquela personagem do Calvino. A estupidez de não reconhecer seu limite físico deve estar relacionada a felicidade, essa sim perdemos à medida que passamos a depender muito da cabeça. Sentir que tudo que se precisa é o calor do sol, água, imensidão, e o seu braço liberta. O que me tira de mim me salva.

As vezes chego a te odiar mas a raiva não passa por todo o corpo, não sendo o que me move nem meu sangue nem minhas meias. Só por esse canal estreito por onde passam as palavras. E assim, uma palavra sua me consola, e volto a desejar ser esse céu de maio.

quinta-feira, maio 20, 2004

nada de novo no front

E após longos dias de trabalho, um cansaço metafísico
Maior que meus músculos, não sou trabalhador braçal- não no sentido literal. Mas nem é cerebral, pois não me desgasto assim fácil por bobagens do trabalho.

o doutor falou que não há cura para angústias extemporâneas.

Pesadelo enxadrista

Só pode pensar - eu estava errado! Enquanto sentia o rigor mortis tomando seu corpo que lentamente tombava de lado, minutos após haver presenciado a sua mulher sendo comida por um alto membro do clero.


O fato dele ter ido para o céu solucionou muitos problemas dessa série. E o caso do ortodontista, envolvendo pecinhas, torções e apertões acabou se tornando um fantasia sado-masoquista. Mas isso é outra história.

Agora acabou, credo.

Augusto dos anjos

Ser a solidão única companhia é uma bonita figura de linguagem. Um verso íntimo é um bichinho que rói, rói, rói.

Hoje eu acordei um pesadelo humorista.

Porque, mesmo nessa manhã de sol

Que só amanheceu assim após longa noite, que em silêncio martelou a eterna sensação de se ser uma ervilha de castigo. O ponto no canto da sala, da piada. Uma piada. O minúsculo e solitário pingo de nada no canto do mundo.
Nem um móvel, nem uma samambaia.


segunda-feira, maio 17, 2004

Pesadelo onanista

- Eles estavam certos! Eles estavam certos!
Caiu da cama, tropeçou nos móveis, deu de cara na parede, se estrepou todo.

Orkut

Segunda feira cedo. Olhos vermelhos, dor nas costas.
Não, não é gripe.
Ignorar user despertador. Ainda reporto meu chefe as bogus.


Pesadelo criacionista

- Eles estavam certos! Eles estavam certos!
Ninguém ouviu seu desabafo, veio o aspirador de pó e...

Próximos capítulos: pesadelo marxista, pesadelo sofista, pesadelo ortodontista.

quarta-feira, maio 12, 2004

Clicherama

Sem eira nem beira
Queria começar um a frase assim mas não achou continuação possível.
- Quem manda querer usar frase feita.
Quando me vou sozinho pelo mundo
- Citar ópera em português vagabundo é pior ainda
Pausa para salvar.
- É um problema da pós-modernidade a pausa para salvar o arquivo.
Os mais ricos escreverão mais, pois quanto melhor o computador menor a pausa, menor a chance de se perder o fio da...
- Deus do céu, lugar comum acompanhado de discurso marxista sem pé nem cabeça é de lascar.
- Rima com vai te catar.
- Jesus salvai-me.
- Para quem se diz ateu você usa bastante o nome Dele.
- Se eu não fosse seria pecado, que eu sei os mandamentos, seu crente da bun...

quinta-feira, abril 22, 2004

Hoje é o mesmo lugar de ontem

Esperando o ônibus em companhia de alguns hippies. Daqueles de verdade, o que me fez tentar calcular a distância que um piolho poderia pular. Cheguei ao ponto depois deles, que já estavam lá conversando. Em poucos minutos o assunto da conversa se torna São Tomé das Letras.

Lanchando em uma lanchonete indiana, védica, na qual não há nada de carne ou ovos. Estou sentanda no balcão e ao meu lado um casal conversa animadamente. Ele lhe dá endereços de sites. Sites que denunciam empresam que utilizam animais em testes. Ela ouve atenciosamente, pois acredita no boicote.

Eu gostaria de esperar mais do mundo, mas as vezes o mundo é só o mesmo. O que não deixa de ser confortável. E eu, que não sou boba, leio a Caras no salão, converso de regime na academia e arquitetura nos cafés. Assim continuo não sendo uma esquisita, não é verdade? Até parece.

sábado, março 27, 2004

janela

Queria escrever um texto com defenestrar, que é uma bela palavra. Mas hoje não quero me defenestrar, nem a ninguém, porque hoje é sábado. E não chove, e não há nada no mundo todo, é só um dia longo e morno.

Posso dizer então que assim como gosto de defenestrar gosto de palavras grandes, e gosto de me definir por palavras grandes. Para meu epitáfio: ela mesma, agnóstica; acrofóbica; heteróclita, mas nem tanto; misantropa, às vezes, mas de bom coração.
Confesso que gostaria que esse fosse um bom momento de humor, porém toda graça acaba no caminho entre minha cabeça e meus dedos. Bons escritores devem ser pequenos. Ou possuir braços pequenos, como o Horácio.
Horácio?
Sim, o dinossauro da turma da Mônica.

Não venderia minha alma hoje, senhor. Você sabe, só vendo na alta.

segunda-feira, março 22, 2004

excerto

Nunca consegui entender porque alguns dias são longos demais, e a vida tão curta. Ou a arte é infinita para tanto tempo meu assim, perdido em bobagens. (e ainda tenho um tempo estranho de memória, que abriga tudo por impressões e não cronologia)

Hoje fez um dia de maio. A casa cheira azul enquanto Monk recende e tudo tem um gosto morno e silencioso de manhã de outono.



Ex Machina

Como se já não bastasse que toda vez que acesso esse blog meu browser acusa que há erros na página (como se eu não soubesse), agora meu contador resolveu entrar em contagem regressiva. Não deve ser um bom sinal.

sexta-feira, março 19, 2004

Dias de guarda

Sempre que faz um dia de sol eu penso que não se deveria trabalhar, que é um crime se ficar preso sob destroços de serviços insignificantes (eu não salvo o mundo antes da hora do jantar), enquanto o mundo pode ser bonito. Neles se deve caminhar (à esmo, objetividade é coisa de quem está no escritório). Neles se pode usar vestido de alcinha e ouvir músicas que falem de amor ao chupar um picolé.

Em toda chuva eu acho que não se pode sair de casa. Caso nevasse por aqui eu teria certeza, e só com os olhos para fora das cobertas, encolhida num canto da cama diria: não há nada que eu possa fazer, você sabe. Talvez dançar um tango argentino.

Madrugadas possuem um certo estado atmosférico ideal para se ouvir Satie, Piazzola, sonatas de Chopin. É uma pena se dormir nas madrugadas, um desperdício de silêncio.

E, além disso,
Em dias de sol a vida parece boa e confortável, como uma sopa. Bons para se ler poesia e o que for divertido, irônico, e que seja assim com aquela agudeza que só os espirituosos possuem. Ajuda a melhorar uma certa gripe da alma. Ainda mais na varanda ou perto de uma janela que tenha vista. É imprescindível se parar alguns segundos e respirar a vista.

Dias de chuva são bons para se ler policias, livros de homem, que dão vontade de sair por aí sendo durão, ou sendo a loura com olhos de inverno polar. Ou então o que tiver um pouco de melancolia, um certo desespero, uma vaga impressão de que nada vai dar muito certo, com aquele fundo cinza todo. Acompanha um bom vinho.

E no mais, tudo que doa, tudo que sufoque, tudo que sinta como se a mais profunda angústia ou miséria de se pertencer a esta raça pode ao mesmo tempo nos fazer felizes por ter sido descrita lindamente, deve ser lido à noite, enquanto os inocentes, os honestos e os justos dormem.

quinta-feira, março 04, 2004

Não pule do décimo andar, meu bem
O senhor da padaria sabe que a todo dia você comprará pão as sete horas
Não faça isso
O menino que fica na esquina sempre que te vê vem correndo, já conta com seus 50 centavos
Você sempre foi generoso, meu bem
Você emprega uma moça, que vem uma vez por semana
E dela não exige muito
Ele sentirá sua falta, querido
Você é o único da rua que cumprimenta o carteiro
É um alívio não ser invisível
Não vá tão cedo, amor
As samambaias estão nascendo, e a orquídea precisa de cuidados
Não se esqueça do gato, amor, tão velho, quase cego, só conhece essa casa, e não poderá compreender outra
Ausências são sempre longas, enquanto sua presença sempre causa uma boa impressão: tão polido, tão cortês.
Não pule agora, que chove e tem sereno
E muito tempo ainda
Acordou cedo, no horário habitual. Foi ao banheiro, lavou-se, olhou-se no espelho: o mesmo de sempre.
Estranhou o silêncio, pois àquela hora, como o dia amanhecendo, toda a casa estaria se preparando para o dia. Saiu do quarto em direção ao café. Silêncio. Num gesto incomum decidiu abrir devagar a porta do quarto do vizinho, para verificar qual a razão de não haver barulho algum pela casa. Olhou em volta, não viu ninguém. Até, como um susto, dar-se conta do que havia sobre a cama, sob os cobertores, como que se escondendo: uma barata gigante.
Riu-se: trote kafkaniano é demais. Não se deu ao trabalho de discutir com o colega de quarto, e pensou que já estava velho par trotes, devia envolver algum novo habitante não conhecido da casa. Continuo seu caminho procurando café. A senhora responsável pela pensão não se encontrava, estranho. Ela sempre estava espiando tudo em algum lugar, inclusive quando trazia alguma menina para casa. Decidiu sair para o trabalho sem café, e nem percebeu que as ruas estavam vazias. Até cruzar por uma rua na qual havia um vigia noturno ao qual cumprimentava. Não estava. Curioso, pensou se deveria ser algum feriado ao qual havia esquecido. Olhou então na guarita: uma barata gigante.
Pouco tempo depois entendeu por fim que toda o mundo havia acordado metamorfoseado, com a exceção dele. Porquê, meu Deus, havia sido esquecido?
Não demorou muito para que todos percebessem que não estavam sozinhos em sua nova condição. Saíram todos para rua então, em comunhão de sua novas experiências. À ele só coube assistir ao espetáculo. Viu toda vizinhança se libertar, em festa, de qualquer humanidade.
Sua vida continuou a mesma.

terça-feira, março 02, 2004

Hoje me sinto em silêncio.

E cada palavra interrompe a sensação que me diz que sou viva para além das coisas que pouco me importam, e mesmo assim se impõem como se necessárias, tanto quanto uma avalanche, em recomendações e diretrizes e normas.
Falar me rouba um pedaço: sou inteira apenas nesse momento em que o universo todo não deseja explicação, só é.
Não almejo solenidade. Quando criança me contaram que a quietude era a virtude das igrejas e dos túmulos, porém as igrejas e os túmulos sempre compreenderam significados que não posso alcançar.
Não transcendo em silêncio, sou pura matéria que deseja ser presença como qualquer matéria, e teme a solidão, a doença e a morte.
Mas nele me transponho da vulgaridade e da dor de cabeça, e passo a residir num espaço muito maior que o que me contém.
E, somente em silêncio, posso compartilhar o todo de que sou feita.

Não gosto de gente que tem medo do silêncio,
Eles tem medo de serem compreendidos de uma maneira que não poderiam suportar.

sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Polêmica extemporânea

Tem-se falado sobre escritores malditos. Alguma polêmica: são malvados, são bonitos,são contemporâneos... Escritores com vários livros publicados, colunas nos jornais, reconhecimento público. E a maldição?
Não é ser rotulado, escrutinado, devassado pelos olhinhos duros da crítica, amaldiçoado ou abençoado pelo público – é escrever somente porque não há mais nada o que se possa fazer.

vácuo

Há momentos em que sentir-se tão sozinho transforma todo o mundo em nada - e nesse nada nenhum som se reflete, não sendo possível conversar nem consigo mesmo.

sábado, fevereiro 21, 2004

e, por falar na incerteza

Ter fé é um estado de graça.
A incerteza deforma o rosto e afasta os casamentos
-Veja bem, uma moça,
Que a tudo questiona
Espanta assim todos os seus bons partidos

A dúvida é feia como o diabo, e se esconde em baixo das camas para comer as criancinhas.
-Olha lá da dúvida, comeu essa, essa e até aquela.
Ainda espero, insone, que ela se mostre assim, real e concreta, e de tal maneira de cabo
ao meu medo do escuro.
porque foi sábado

Um dia longo, calmo, cinza, sonolento.
Chuva.
Um dia que combina com varanda daquele interior que não se sabe onde, nessa correria, resiste.
E com todos os livros ainda não lidos, filmes não vistos. E com nenhum projeto. Somente com projetos que não há mais, ou que só serão muito longe, sozinhos, no escuro, em silêncio, como que reza, como quem crê.
Um dia nem a mais, nem a menos. Dizem que é carnaval. Não vejo sol, não vejo multidões, não danço.
Pode ser sábado, mas a chuva não cessa e meu avô não concordaria: não há sábado sem sol.
Continuo sem saber, como de costume.
Porém já passa. Sempre passa.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

momento dona de casa existencialista

A vida não passa, amarrota.

terça-feira, fevereiro 10, 2004

Working

Imagine um material para cobrir uma parede. Esse material vem em chapas. As chapas têm tamanho de fábrica. Se você quiser usar esse material você pagará por chapa. Portanto, para usá-lo, deve-se medir a tal parede e estudar o melhor aproveitamento, utilizando-se assim o menor número de placas possível.

Há três meses atrás:
-Bom dia, NONO.
-Bom dia, aqui é ela mesma do escritório que ela trabalha, gostaria das dimensões de uma placa de FONFONFON.
-Pois não, 220cmX126cm.
-A placa pode ser aplicada inteira?
-Não, é necessário dividi-la em mínimo ao meio.
-Há perda no corte?
-Aproximadamente três cm por placa, assim para efeito de paginação você pode considerar 217cmX123cm.
-E o rejunte?
-É mínimo, não precisar considerar.
Obrigada então, mando a paginação por faz o mais rápido possível.

...

-Escritório onde eu trabalho, Boa tarde.
-Ela, tá boa? É a Cliente...recebi o orçamento da NONO, você não disse que seriam três chapas? Recebi um orçamento para seis chapas...
-Vou verificar o que aconteceu.
-A gente ta com pressa, ok? Os outros orçamentos já estão sendo fechados...e tem mais isso, isso, aquilo, aquilo outro, pepino, abacaxi, etc.
-É claro, resolverei tudo o mais rápido possível.

-NONO, boa tarde.
-Bom dia, aqui é ela mesma do escritório que ela trabalha, preciso falar com o Responsável pelo orçamento da Cliente.
-Só um minuto.
-NONO, boa tarde.
-É ela, estou esperando o responsável...
-Ah, claro
-NONO, boa tarde.
-Meu bem, será que eu poderia falar com o Responsável?
...
-Oi, aqui é o Responsável.
-Olá, recebi um orçamento de vocês para seis chapas, enquanto paginei para três.
-Veja bem, você sabe, com perdas de corte...
-Olha só, a paginação na verdade era para duas chapas e meia, tinha meia chapa de folga, como que pode perda em corte resultar no dobro das chapas?
-Veja bem, a placa perde três centímetros quando vem pra gente, e fica com 217 por 2123.
-Como três centímetros de perda resultaram no dobro de placas?
-Oi, aqui é Responsável pelo Responsável.
-(respira fundo) Eu queria saber porque a Cliente recebeu um orçamento pelo dobro de chapas que eu especifiquei.
-A senhora considerou a perda de 3cm das chapas?
NÃO LEMBRO, FAZ TRÊS MESES QUE EU PASSEI O ORÇAMENTO!!!
-(serenity now, serenity now) Olha só, como três centímetros em cada placa puderam dobrar o número de chapas? Eu olharei o desenho. E mandarei novamente para orçar.

...

Olho o desenho, tchã tchana nam: a paginação foi feita com as placas considerando a perda. A Cliente tinha resolvido aproveitar a sobra da terceira chapa e revestir o resto de outra parede, utilizando as três chapas inteiras. Imprimo o mesmo desenho, mais a área a ser acrescida, devidamwente paginada com a sobra da chapa.

-Escritório onde eu trabalho, Boa tarde.
-Oi, aqui é responsável 1da NONO.
-E então?
-Recebi os desenhos NOVOS Agora foram mesmo só DUAS CHAPAS!
-Não é possível que seja duas, tem que ser três chapas.
...
-Oi, aqui é o Responsável2, eu vou conferir a paginação. O Desenho um é tal e tal?
-É.
-o desenho dois é isso e isso?
-Sim.
-Viu, você está compreendendo? São duas chapas.
EU FIZ ESSE DESENHO, EU ENTENDI ISSO HÁ MUITO TEMPO.
-Eu enviei mais um desenho.
-Ah, não está aqui...
-Eu acabei de enviar um fax.
-Ah!... Então serão três chapas, não é mesmo? Viu que bom mudar a paginação?

E assim, eu me tornei uma pessoa muito mais compreensiva. Com assassinos em série.

sábado, fevereiro 07, 2004

não beba sereno, não tome gelado

Ser legal é admitir que a realidade caminha autonomamente, e assim a única maneira possível de se encará-la é seguir o caminho que já está aberto. Não ser legal é, portanto, se perseguir teimosamente as condições para que o mundo faça algum sentido. É tão difícil se viver com essa sina quanto nascer sob qualquer outro signo de tragédia. Abrir picadas é coisa de gente louca.

Eu duvido de quem todos concordem que seja sensato.

domingo, fevereiro 01, 2004

só pra contrariar

ai, meu Deus...mas eu não disse que ia parar de falar mal do pedantismo, disse? Deixa eu rever isso...porque quando eu me deparo com pérolas da crítica arquitetural como essa, não dá pra ficar indiferente:

" A estrutura de água amacia e dissolve todas as bordas, e dá ´micro´detalhes à totalidade monolítica. A sofisticação e o ludismo dos componentes e a simplicidade e monumentalidade do todo dá ao edifício uma dualidade interessante."

Olha a escolha preciosa das palavras, tão bonitas...what the hell se pretendo com um texto assim? Alguém me explica? O pior que o projeto é muito interessante, não precisa dessa lenga lenga. Ela não acrescenta em nada à compreensão do projeto nem apresenta nenhum conceito de valor teórico, é pura e simples ENROLAÇÃO. Jesus me proteja.
Here comes de sun

Talvez agora o ano novo comece. Eu sei que estou um pouco atrasada, mas o sol está chegando só agora. Não que me emocione o clamor pela praias e bundeforas, samba e carnaval. Mas luz eu acho bom. Então meu humor melhorou um pouco, assim, promessas para um ano novo feliz, here we go:

1) não reclamar da jequice de belo horizonte
2) não reclamar da burrice alheia
3) não reclamar do trabalho, do exesso de nem da falta de
4) não reclamar da falta de dinheiro
5) tirar extrato com freqüência, e abrir os envelopes que vem do banco
6) não gastar além das minhas posses
7) não se sentir num mar de mediocridade e lugar comum
8) não odiar as pessoas magras, especialmente aquelas que comem muito e continuam macérrimas
9) ler livros até o fim, pelo menos os que valham a pena
10) não rir dos hippies, dos mudernos, do booggies, dos playboys, dos universitários de DCE, dos carregadores
de bandeiras velhas, etc (essa tudo bem, eu abro exceções)

sábado, janeiro 17, 2004

rain falls hard in the hundrum town

Ao caminhar com o guarda-chuva aberto percebi que não chovia
E colocar isso sobre o papel não mudará em nada a previsão do tempo.
A sensação de ser estranha com o guarda-chuva aberto nunca passa,
Porém a frase que a expressaria passou muito mais rápido que eu a poderia escrever.

Inútil, inútil.

Os transeuntes viram o rosto para disfarçar sua pena.
Pois se passam rápidos os carros e os guarda-chuvas certamente assim não vão por se compreenderem mais, ou menos.
Mas sabem que a existência dos carros e dos guarda-chuvas é tão concreta quanto lhes pareça.
E tão necessária quanto.
Não perceber se chovia, não perceber que os carros passam,
É tão inútil quanto o guarda-chuva sob céu limpo
E não cria nem o abrigo nem a caneta nem o papel.
E é por isso que sempre escutarei:
Que pena gastar seus miolos assim, minha filha,
a previsão do tempo nunca acerta mesmo.

terça-feira, dezembro 30, 2003

O Natal, o Ano Novo, o eterno retorno

Devido a minha formação católica posso dizer que não acredito o suficiente para ser atéia. O ateísmo é, como o resto, uma profissão de fé.
Sendo que dúvidas sempre me assombraram, nunca me coube a devição necessária para crer em Deus.
Fiquei assim: sem acreditar nem desacraditar em muita coisa.
Não sou nada, nunca serei nada. À parte isso, leio o horóscopo todas as manhãs.

segunda-feira, dezembro 01, 2003

por uma vida mais esquizofrênica

- Tô mais preocupada com o rumo da humanidade, saca?
- Mentira, eu quero que a humanidade se foda
- Mas e aí a foda fica mais complexa
- É isso, a foda...

Pausa desconfortável

- O que me preocupa são os bichinhos e a floresta amazônica...
- Que se foda a floresta amazônica
- É verdade, eu não sou zoófilo
- ...

hum, que tédio, sempre termina assim: que se dane, problema seu. Como assim momentos de esquizofrenia tão previsíveis, heim dona?

- Mas era uma digressão a respeito da ...
- Ah...então pode ser.
então, continuando...

O que? A burrice já não te irrita tanto?
Porque a gente vai ficando velha e paciente, é uma dádiva da velhice: a paciência.
Ignorance is bliss, não é? talvez no fundo sempre fosse inveja, então...
O maior argumento do medíocres - já viu como os medíocres sempre falam, de quando são atacados: é inveja!
É, a inveja da ignorância devia ter sido catalogada por Freud: vem sendo mais importante que a inveja do pênis, for sure.

domingo, novembro 23, 2003

do discutir e do argumentar

Uma das minhas grandes frustrações ao longo da vida acadêmica, e também em outros setores da vida, é que a maioria das pessoas que eu conheço não sabe discutir. É simples: se você lhes dá um argumento, elas não são capazes de elaborar uma resposta com um contra-argumento, no que normalmente descamba para a chacota, a agressão pessoal, ou ao desvio de assunto. E quase sempre se acaba com um: credo, mas você não gosta de nada, ou você não concorda com nada, ou você tá muito estressada. Jesus. É aviltante (ui, como ela fala bunito), como se você for capaz de elaborar rapidamente uma argumentação bastante simples que possa vir a atrapalhar o (frágil) raciocínio de seu interlocutor, o que se gera não é uma dúvida na cabeça do pobre, que percebe a fragilidade de seu argumento e que portanto vai em busca de fortalecê-lo, mas sim um ódio instantâneo de todos que estão a sua volta: como assim você se sente no direito de me agredir assim??? quem você pensa que é??? e pronto, você já se tornou uma persona non grata do pior tipo: aquela que tem o rei na barriga. E como são frágeis os argumentozinhos que temos que encarar, meu Deus! Como são bobinhos!
Outra coisa bastante grave, e que costuma embasar esse tipo de comportamento, é uma visão de apostila de colégio para qualquer, eu digo qualquer coisa escrita: tudo que se lê é um postulado. Não existem opiniões pessoais, erros históricos, visões políticas, lados opostos: se está escrito, é a lei. Portanto nenhum assunto precisa ser pesquisado, só se precisa ler o verbete correspondente na enciclopédia mais próxima e presto! Temos uma opinião. Normalmente maniqueísta: o que é de lá e mal, o que é de cá é bom. Se cheira a social é bom, se cheira a dinheiro é mau. Se lembra o campo é bom, se tem gosto de revolução industrial é mau. Se é uma pouco gente é bom, se é duro como uma máquina é mal. Para que argumentar, então? Discussão é no futebol, no butiquim, é sobre cerveja. No mais, é briga: ah, lá vem ela que não vê novela, tão metida a besta.
É um mundo duro. Duro demais para mim, mas isso é só prá variar.
da série postando figurinhas: por um blog mais estético e menos histérico, ou nada a dizer ultimamente

You like it fast and strong and you drink for one reason: to get piss-ass drunk!
Congratulations!! You're a shot of some good old
hard liquor!


What Drink Are You?
brought to you by Quizilla

sábado, novembro 22, 2003

o fino do humor nerd

Ou momento de diversão solitária. Não, não é um posto onanísitico. Trata-se de como eu estava parada, em uma livraria da cidade, na qual a sessão de literatura estrangeira é em frente à sessão de quadrinhos. Enquanto me debatia em dúvida sobre o que levar (ah, triste vida de trocos contados) não pude deixar de ouvir um grupo de meninos aficcionados por quadrinho conversar. Eu, aquela altura, já havia sido notada pelo grupo e não disfarçava mais as risadas que estava dando da conversas. O ponto alto:
-eu já fiz ele começar a ler mangás, ainda faço ele virar homem e jogar RPG. Quase caí no chão.
Nada como estar sexta á noite numa livraria para ouvir uma frase como essas.

terça-feira, outubro 28, 2003

decadência sem elegância

Sábado de manhã: aeroporto da Pampulha, uma hora de viagem até Brasília. Dia lindo, céu sem nuvens, tomada do plano na chegada. Ida de carro até o plano. Almoço numa rizoteria na região hoteleira. Táxi até a UNB.
Fim de tarde. Calor, muito calor. Kombi sai da universidade para a rodoviária velha. Maluco da lotação não parava de enfiar pessoas dentro da van. Chagada na rodoviária. Volta no CONIC. Lanche no MacDonalds do conjunto Nacional. Volta no conjunto Nacional pra matar o tempo.Dor no pé de ficar andando no calor. Bolhas. Compra de um Correio Brasiliense. Só abre nas palavras cruzadas. Não completa as palavras Cruzadas. Ônibus até a rodoferroviária. Espera mais um pouco, em pé, naquele ponto de ônibus com escala aumentada que é a rodoferroviária. Onze horas de viagem até Belo Horizonte, sem dormir.
Como ser classe média é ficar balançando entre uma vida e outra sem conseguir ser muito feliz em nenhuma das duas. Nunca pensei que fosse um clichê tão grande.

segunda-feira, outubro 20, 2003

céu de brasíia, quem quer ser arquiteto, blá, blá

Fim de semana na capital federal. Brasília tem algo de atraente para mim, claustrofóbica do nosso mar de morros gerais: paisagens que se estendem, longas. Perspectiva. E podem compreender perspectiva em qualquer sentido, sim.
Em Minas, já não há.

terça-feira, outubro 14, 2003

mas, como assim?

O problema de se esperar sempre o pior das pessoas é que o mundo acaba se tornando um lugar muito previsível.

domingo, setembro 28, 2003

posts de uma noite quente

-Ai, menina, quanta auto piedade.
-É foda ter sempre a consciência de que a vida é uma bosta, nem encher a cara tá funcionando mais.
-Consciência? Isso é coisa de pseudo-intelectual que quer descobrir a Verdade.
-Pois é, mas eu sempre posso ser pseudo-intelectual, eu tenho mesmo um monte de livros, sem ler.
-Você é uma farsa.
-E eu já nem posso ser ignorante...você sabe que a ignorância é uma benção.
-Você acha que tem potencial para alguma compreensão mais profunda do mundo, mas adora se afundar nesse poço de auto-comiseração, porque tem medo de que quanto mais fundo cavar mais vai concluir que sua infelicidade é unicamente sua culpa.
-Pois é, eu sei, mas não dá prá ser condescendente comigo?
-Só se eu soubesse o que é isso...além do mais quem tem pena é galinha.
-É, eu não sou galinha.
-Azar o seu.

domingo, setembro 14, 2003

Sobre a greve dos correios ou uma notícia me remonta a infância (idos de 1890)

A data fica para os leitores que não leram o post em que eu bravamente revelava a minha idade.
Soou algo doce a notícia da greve dos correios. A perturbação da parada dos funcionarios da empresa de correios e telegráfos(?) tem algo de passado, como um elixir revigorante. Faz lembrar o chicabon de Nelson Rodrigues, ou Drumond subindo os arcos do viaduto Santa Tereza. Sim, ainda existem o chicabon e o viaduto. Mas o sujeito rodriguiano que de tão azarado poderia (batata!) ser atropelado por um carrinho de chicabon, ou o encontro marcado, não. Essa pessoa incrédula há pouco tempo teve que escrever uma carta. Para um tio que (filisteu) não tinha um endereço eletrônico. Mas, como assim? E tive que descobrir onde ficava uma agência de correios na Savassi. Sim, na Savassi, onde vou praticamente todos os dias nos últimos 6 anos e meio. Eu não sei se terei que escrever outra carta. Mas sorri ao imaginar a alegria tímida no rosto do homem-de-bem, inadimplente pela força maior, apoiado e compreendido pelos cobradores. E lembro que não escrevo cartas, mas ainda faço muita questão de nas minhas correspondências, sejam elas de que forma forem, sejam escritas com delicadeza, no português que tanto prezaram nossas professorinhas. Com frases completas, concordantes, sem abreviações herméticas ou ortografias estranhíssimas. (porque alguma forma estranha sempre poda ser encontrada por alguém mais perspicaz que eu).

sábado, setembro 06, 2003

Hasta la vista

Ocorre que agora aparentemente, após a questão dos policiais que extorquiam as prostitutas no hipercentro de Belo Horizonte (Texas), a nova série (moda) de notícias nos telejornais é sobre o contrabando de cigarros. A série começou com a prisão de um grande falsificador, e agora recorrem notícias sobre as apreensões. A festividade da imprensa tem sido tamanha que imaginei, então o próximo passo: a prisão dos portadores de cigarros falsificados. Assim, finalmente o sonho do politicamente correto seria realizado: a prisão com flagrante do pobre fumante ativo.

A, é claro: o preso auto-flagelador...mas isso já são outros quinhentos.

Ah, então tá bem


Ilma senhora Ela Mesma

Eu sou velha. Já comentei com um amigo: tenho 120 anos. Ele a princípio estranhou, porém lhe contei (em segredo) os milagres da medicina estética, coisas que homens não podem compreender. Pois então. Gosto de música velha .Tenho prazer em ouvir e reouvir as mesmas músicas velhas. Gosto de livros velhos, de escritores mortos a tempos. Gostos de filmes velhos. Mas gosto de novidades também, porque não sou reacionária, não. Sou velha, não caduca. Não tenho muita ansiedade com novas tecnologias, e várias vezes tenho preguiça de aprender um programa novo que substituísse o meu velho de guerra. Pois bem, e então ouvi "e até quem me vê, lendo jornal, na fila do pão, sabe que eu te encontrei" desses moços , e achei lindo. "E se o caso for de ir a praia, eu levo essa casa numa sacola". Amor tranqüilo, meu caro, amor tranqüilo. Amor com tempo.
Eu sou velha. Tem coisas que a gente não nega, nem com todo botox do mundo ocidental.

Turista
O rio de janeiro continua lindo. Com frio e tempo nublado. E sem mais por hora



quinta-feira, agosto 28, 2003

unique

Com a cortesia de outrens a serem devidamente creditados:
novo programa de P2P
que promete se o novo napster
e com garantia de total privacidade ( ótimo em tempos em que já forma cconsideradas medidas de explosão remota de computadores que trocam música) tem side na Palestina, para evitar o policiamento.
garota lança cd com músicas da madona traduzidas para o pobre idioma
português, com uma voz que parece a de um pato gripado. Ela é a Gizele
e está vivendo num mundo materialista, é uma garota materialista. Bom, o site deve ser conferido também. Fantásico.

quarta-feira, fevereiro 05, 2003

começo
Acordei cedo, ou tentei...depois de perder a hora e o ônibus, finalmente fui para a faculdade a tempo de chegar no fim do fim da aula. Hoje fez um dia de sol. E na rua havia inuúmeros cachorros e inúmeros velhinhos de legging e tênis, caminhando. Eu tive a impressão que todos aqules velhinhos (e talvez os cachorros) deveriam viver mais que eu, correndo desesperada e bêbada depois de uma noite mal dormida.
e fui comecar um blog.